"Boa tarde.
... [estamos mesmo à frente dele mas Bendtner está a dar um autógrafo
numa camisola vermelha da Dinamarca, curiosamente com o seu nome nas
costas]
Nicklas, boa tarde?
Estás a falar comigo? Tudo bem? Como vais? És de onde? [mas afinal quem é o jornalista aqui?]
Sim, tudo bem. Sou de Portugal.
Aaaaah, sorry to hear it.
What? Mas perdeste connosco.
Achas que não sei? Mas vamos recuperar. Acabaremos o Europeu em grande, garanto-te.
Mas amanhã é o jogo com a Alemanha.
Okay, bem sei que a Alemanha é daquelas selecções que joga sempre,
sempre mas sempre com a mesma seriedade e competência. Mesmo tendo ganho
a Portugal e à Holanda, vai entrar em campo para ganhar, como se
precisasse dessa vitória para passar aos quartos-de-final, mas nós temos
os nossos truques.
[rimo-nos por simpatia, não por gozo mas Bendtner...]
Ai agora ris-te? Duvidas do nosso valor, é?
...
Estás a ver aquele ali? [aponta-nos para um adepto lá ao longe com uma camisola da Dinamarca a dizer Bendtner]
Sim, vejo.
Aquele é um dos nossos truques.
O adepto?
Tudo junto. Tens de ver o quadro completo: a camisola vermelha, o
símbolo da Dinamarca, a força dos adeptos e o meu nome. Juntos, vamos
dar que falar. Aliás [começa a sorrir, depois abre a boca a rir-se], só
continuo a falar contigo se me prometeres publicares esta entrevista no
dia da final, ok?
Mas o meu jornal não sai ao domingo. É de segunda a sábado.
Então sábado, véspera da final. O importante é que saia nesse fim-de-semana.
E a final é entre...?
Dinamarca e escolhe tu a outra selecção.
Que confiança, hein?! [na Primavera de 2010, um psicólogo visita o
Arsenal e mede a auto-estima a todos os jogadores de 1 a 9; Bendtner
tira um 10!]
Se não formos confiantes, estamos aqui a fazer o quê? Diz-me. Achas que
entro em campo a temer este ou aquele defesa? Não, nada disso. Entro
sempre em campo a pensar que sou melhor que eles. Se duvido de mim, não
tenho hipótese de o superar e o desporto é isso mesmo, superação
individual.
E se falhares?
Tenho sempre mais uma oportunidade. E mais uma e outra e outra...
Isso é inato?
O quê, ser autoconfiante ou bom em todos os desportos?
[risos] Nem sabia que eras bom em todos os desportos.
É só escolher: ténis, basquetebol, andebol, voleibol, futebol. Desde pequeno que tenho essa mania de ganhar a toda a gente.
E escolheste o futebol porquê?
Queres melhor emprego que futebolista? Eu, pelo menos, sinto-me
realizado. Como o homem mais feliz do mundo, nos treinos e nos jogos.
Divirto-me a fazer o que quero. Tenho um emprego do caraças [one hell of
a job]. Sempre o quis, sem pensar nas consequências. Quando éramos mais
novos, a gente divertia-se a jogar em terrenos baldios o dia todo.
Comprávamos bebidas e jogávamos, jogávamos, jogávamos. Para lá do
cansaço até.
...
Ténis de mesa e skate.
Desculpa? [assim de repente, isto parece borscht de letras; desculpem, sopa de letras]
Esqueci-me de mencionar ténis de mesa e skate na lista dos desportos.
Mas skate não é prejudicial para a saúde de um futebolista?
Agora já não ando de skate. Quando era miúdo, sim. Adorava. A emoção, a adrenalina de descer, de curvar, de cair.
Caíste muitas vezes?
Ohhhhhhhh, perdi a conta. Mas nunca desisti, sabes? Esse é o segredo.
Insistir, insistir, insistir. Nunca desistir. É como tudo na vida,
acho... Se caíste, levanta-te. E tentas outra vez. Claro que não vale ir
sempre contra a mesma parede. Convém contorná-la, ultrapassá-la. Eu vou
conseguir, eu vou conseguir. Confiança, sobretudo muita confiança.
Okay, se confiares em mim, prometo-te que a entrevista sai no sábado
30 de Junho, véspera da final. Não te posso garantir é que seja
Dinamarca vs. outra selecção.
Tu fazes a tua parte, nós fazemos o resto.
Pois. "
Retirado da entrevista de Rui Toval a Nicklas Bendtner, publicado no i, que pode ler na integra aqui.
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